Era 2017 e eu decidi aprender cerâmica. Tinha acabado de me dar conta de ter passado por um burnout, estar afundada na depressão, ter pedido demissão do meu emprego, mudado de cidade, e como qualquer outra pessoa, poderia ter começado a frequentar aulas regulares semanais de um curso de cerâmica livre num ateliê.
O que eu fiz? Me inscrevi numa formação completa de cerâmica, claro. Tive aulas aprofundadas sobre composição de massas e argilas, formulação de esmaltes e vidrados, componentes químicos, torno avançado. Não aprendi quase nada. As professoras eram todas excelentes. Todas mulheres. Maravilhoso, né? Mas antes disso, eu nunca tinha mexido na argila.
Acabou esse curso completo, e eu voltei pro passo inicial que deveria ter dado. Me inscrevi no curso regular. Abri um pacote de argila. Amassei o barro. Aprendi as variadas técnicas de modelagem manual. Aprendi torno elétrico (sigo praticando até hoje). Entendi como funciona o barro. Porque cada peça tem uma forma mais fácil ou prática de ser construída. Porque uma forma funciona ou não na cerâmica.
E um dia fui apresentada à porcelana. A porcelana tem plasticidade e maleabilidade. Nesse dia minha vida mudou.
Com a porcelana, consegui construir peças delicadas, finas, de espessuras que nunca tinha conseguido alcançar com as outras massas (ou argilas) em modelagem manual.
Consegui desenvolver peças com transparência.
Peças que desafiam a natureza e se mantém firmes como uma trama de renda.
Tudo isso porque um dia conheci a porcelana. Ainda me pergunto o que mais vou descobrir do que ela é capaz.
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